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segunda-feira, 23 de julho de 2012

INCA REALIZA 1º ENSAIO SEM PARTICIPAÇÃO DA INDUSTRIA


ensaio-clinicoO Ins­ti­tuto Na­ci­onal de Câncer (Inca) re­a­lizou o pri­meiro ensaio clí­nico on­co­ló­gico de fase 3 sem a co­or­de­nação da in­dús­tria.
Par­ti­ci­param do es­tudo mais oito cen­tros de pes­quisa. Os au­tores con­si­deram o tra­balho um marco na ava­li­ação in­de­pen­dente de te­ra­pias para câncer no País.

Os ci­en­tistas que­riam des­co­brir se a ad­mi­nis­tração de dois me­di­ca­mentos (pe­me­trexed e car­bo­pla­tina) po­deria au­mentar a ex­pec­ta­tiva de vida de pa­ci­entes com uma forma de câncer de pulmão avan­çado. 'Hoje, a mai­oria das pes­soas que chegam nessas con­di­ções não re­cebe te­rapia, pois o be­ne­fício ainda não foi com­pro­vado', diz Carlos Gil, chefe da Pes­quisa Clí­nica e In­cor­po­ração Tec­no­ló­gica do Inca.

O tra­balho, di­vul­gado no úl­timo con­gresso da So­ci­e­dade Ame­ri­cana de On­co­logia Clí­nica, mos­trou que o re­médio au­menta a ex­pec­ta­tiva de vida em três meses. 'Agora pre­ci­samos ver se ele é custo-efe­tivo (se é pos­sível in­cluí-lo no rol de te­ra­pias apro­vadas para o SUS)', aponta Gil.

Mais im­por­tante que o re­sul­tado clí­nico é o pi­o­nei­rismo da ini­ci­a­tiva, apontam os pes­qui­sa­dores. Na con­clusão do es­tudo, eles dizem que o 'teste de­monstra a vi­a­bi­li­dade de um me­ca­nismo in­de­pen­dente para con­duzir testes de câncer e re­pre­senta uma mu­dança de pa­ra­digma em pes­quisa clí­nica na Amé­rica La­tina'.

Se­gundo o banco de dados do clinicaltrials.gov - man­tido pelo go­verno ame­ri­cano -, 24 testes clí­nicos de fase 3 para câncer estão re­cru­tando vo­lun­tá­rios no Brasil. Todos re­a­li­zados pela in­dús­tria far­ma­cêu­tica.

Di­fi­cul­dades

Cerca de 60% dos pa­ci­entes in­cluídos no es­tudo eram aten­didos no Inca. A dis­tri­buição de­si­gual re­vela a prin­cipal di­fi­cul­dade para re­a­lizar es­tudos sem o apoio da in­dús­tria. 'A mai­oria dos cen­tros de pes­quisa nas uni­ver­si­dades es­colhe tra­ba­lhar sob a co­or­de­nação da in­dús­tria para ter acesso à es­tru­tura e aos re­cursos ne­ces­sá­rios para re­a­lizar os testes', afirma Gil. Por isso, es­tudos in­de­pen­dentes não cos­tumam atrair in­te­resse.

'Há também um pro­blema cul­tural: muitos grupos em uni­ver­si­dades têm di­fi­cul­dade para re­a­lizar par­ce­rias, algo es­sen­cial para pes­quisas assim. Querem ga­rantir uma vi­si­bi­li­dade que cai quando você faz tra­ba­lhos em uma rede de pes­quisa.'

'O es­tudo pa­rece pro­missor', afirma Ál­varo Atallah, pre­si­dente da Co­ch­rane do Brasil, prin­cipal banco de re­vi­sões sis­te­má­ticas em me­di­cina. Mas ele pon­dera que os me­di­camentos ainda foram for­ne­cidos pela in­dús­tria far­ma­cêu­tica Eli Lilly (em­bora ela não tenha par­ti­ci­pado do de­senho do es­tudo).

Ele de­fende que todos os es­tudos clí­nicos sejam re­a­li­zados por en­ti­dades in­de­pen­dentes. O di­nheiro seria pago pela in­dús­tria a uma agência que con­tra­taria os res­pon­sá­veis por con­duzir os testes, sem con­tato - di­reto ou in­di­reto - com a in­dús­tria.

Para o pre­si­dente da So­ci­e­dade Bra­si­leira de Me­di­cina Far­ma­cêu­tica, João Massud Filho, deixar os testes a cargo de uma agência go­ver­na­mental não re­solve o pro­blema. 'Uma pes­quisa clí­nica bem feita in­de­pende de quem está fi­nan­ci­ando', diz. 'O im­por­tante é ga­rantir a trans­pa­rência e o tra­ta­mento ético dos su­jeitos de pes­quisa.' Ele ad­mite que pode haver, em al­gumas si­tu­a­ções, o in­te­resse de li­mitar a di­vul­gação dos re­sul­tados. 'Mas dá para re­solver esse pro­blema com uma lei que ga­ranta trans­pa­rência na di­vul­gação dos dados.'

Taxas


José Ruben de Al­cân­tara Bonfim, co­or­de­nador exe­cu­tivo da So­ci­e­dade Bra­si­leira de Vi­gi­lância de Me­di­ca­mentos, acre­dita que nem mesmo as agên­cias re­gu­la­doras de­ve­riam co­brar taxas da in­dús­tria para ava­liar suas pro­postas de novos me­di­ca­mentos. E cita como exemplo a nova agência fran­cesa de vi­gi­lância far­ma­co­ló­gica - a ANSM. Seu or­ça­mento para ava­liar a vi­a­bi­li­dade de novos me­di­ca­mentos - cerca de 140 mi­lhões de euros (R$ 355 mi­lhões) - virá ex­clu­si­va­mente dos co­fres do Es­tado.

As in­for­ma­ções são do jornal O Es­tado de S.Paulo.

 
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