O FDA estima que 10% ou mais dos defeitos congênitos sejam causados por medicamentos tomados durante a gravidez
O desastre da talidomida no início dos anos 1960 deixou milhares de bebês com membros deformados porque suas mães inocentemente tomaram uma pílula para dormir que era considerada segura durante a gravidez. As consequências são bem conhecidas, e um número incontável de grávidas passou a evitar qualquer tipo de medicamento, temendo que isso pudesse colocar em risco o desenvolvimento do bebê.
O desastre da talidomida no início dos anos 1960 deixou milhares de bebês com membros deformados porque suas mães inocentemente tomaram uma pílula para dormir que era considerada segura durante a gravidez. As consequências são bem conhecidas, e um número incontável de grávidas passou a evitar qualquer tipo de medicamento, temendo que isso pudesse colocar em risco o desenvolvimento do bebê.
Fiquei aterrorizada em dezembro de 1968 quando, durante as primeiras semanas de gestação, desenvolvi uma pneumonia dupla e fui tratada com codeína e antibióticos. Antes de tomar a primeira dose, liguei para meu obstetra, que me disse para tomar o que haviam prescrito, “garantindo” que, se eu morresse de pneumonia, o bebê não iria nem nascer.
Nas décadas seguintes, perigos relacionados à gravidez foram ligados a muitas substâncias médicas: medicamentos controlados, liberados e fitoterápicos. Contudo, as últimas descobertas sobre o uso de medicamentos durante a gravidez geraram uma nova onda de preocupação entre os especialistas. Ao longo dos últimos 30 anos, o uso de medicamentos controlados durante o primeiro trimestre de gestação, quando os órgãos do feto estão se formando, cresceu mais de 60%. Cerca de 90% das grávidas tomam ao menos um medicamento e 70% tomam ao menos um medicamento controlado, de acordo com o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, sigla em inglês).
Desde o fim dos anos 1970, a proporção de mulheres grávidas que tomam quatro ou mais medicamentos cresceu mais de 100%. Quase uma em cada 10 mulheres consome medicamentos fitoterápicos durante o primeiro trimestre de gestação.
Cada vez mais mulheres presumem ingenuamente que estão seguras, automedicando-se com remédios liberados, mas que antigamente eram vendidos apenas sob prescrição médica. O Food and Drug Administration (FDA) estima que 10% ou mais dos defeitos congênitos sejam causados por medicamentos tomados durante a gestação.
—Parece que nossa sociedade se esqueceu de que medicamentos trazem riscos. Muitos medicamentos liberados foram colocados nas prateleiras sem qualquer estudo prévio sobre os possíveis efeitos durante a gestação — afirmou o Allen A. Mitchell, professor de epidemiologia e pediatria da Faculdade de Medicina e Saúde Pública da Universidade de Boston.
O progresso médico contribuiu para a tendência, afirmou Mitchell. Diversas condições, como a depressão, agora são reconhecidas como doenças que precisam de tratamento. Medicamentos foram desenvolvidos para tratar condições para as quais não havia tratamento anteriormente e algumas condições, como o diabetes tipo 2 e a hipertensão, tornaram-se mais comuns.
Dr. Google não é recomendado
Agora, surgiu uma nova preocupação: ignorando conselhos médicos, um número cada vez maior de mulheres está usando a internet para determinar se o remédio que estão tomando é seguro para o feto.
Um estudo sobre “listas de medicamentos seguros para a gravidez”, publicado em janeiro na versão online da publicação Pharmacoepidemiology and Drug Safety, revelou 25 sites com inconsistências óbvias e informações frequentemente falsas, baseadas em “evidências inadequadas”.
O relatório foi preparado por Cheryl S. Broussard, do CDC, com coautores de Emory, da Universidade do Estado da Geórgia, da Universidade da Columbia Britânica e do FDA. “Dos medicamentos aprovados para consumo nos Estados Unidos entre 2000 e 2010, mais de 79% não haviam publicado estudos com seres humanos que avaliassem o risco teratogênico (a possibilidade de defeitos congênitos), e 98% publicaram dados insuficientes para caracterizar esse risco”, escreveram os autores.
Mas isso não impediu esses 25 sites de classificarem 245 medicamentos como “seguros” para gestantes, o que “pode encorajar o uso de medicamentos durante a gravidez, mesmo quando não são necessários”, sugeriram os autores.
Além disso, as informações às vezes eram contraditórias. “Vinte e dois dos produtos listados como seguros por um ou mais sites constavam na lista dos não seguros em pelo menos outro site”, revelou o estudo.
A questão do tempo era frequentemente ignorada: um medicamento que pode afetar a formação dos órgãos do feto pode se tornar seguro em um momento posterior da gravidez. Já outros (como o ibuprofeno, por exemplo) que são seguros no início da gestação, tornam-se cada vez mais perigosos com o passar do tempo, aumentando os riscos de sangramento excessivo.
Apenas 13 desses sites encorajavam as mulheres a consultar os médicos antes de parar ou de começar uma medicação.
Gravidez e depressão
Os autores do estudo notaram que os médicos também são frequentemente mal informados sobre os riscos relacionados a diversos medicamentos. Uma mulher que conheço foi aconselhada a deixar de usar antidepressivos durante a gravidez, enquanto outra ouviu que deveria continuar tomando o medicamento.
— Em muitos casos, a melhor aposta para a mãe é continuar tomando o remédio — afirmou Siobhan M. Dolan, obstetra e geneticista da Faculdade de Medicina Albert Einstein.
Siobhan afirmou que se a mulher está deprimida durante a gravidez, o risco de depressão pós-parto é ainda maior e ela pode ter dificuldades para se identificar com o bebê. A médica, que, ao lado de Alice Lesch Kelly é autora de Healthy Mom Healthy Baby, enfatizou a importância de calcular benefícios e riscos na hora de decidir se e quais medicamentos devem ser consumidos durante a gestação.
— Antes de engravidar, mulheres que estejam tomando um ou mais medicamentos para tratar alguma condição devem tentar diminuir para apenas um medicamento. Dos vários medicamentos disponíveis para tratar determinada condição, existe alguma escolha ideal? Algo que tenha menos chances de prejudicar o bebê ou a mãe? — afirmou Siobhan.
A médica alertou para o perigo de presumir que um remédio considerado “natural” ou “fitoterápico” seja seguro. Praticamente nenhum foi testado em relação aos perigos durante a gestão.
Medicamentos proibidos
Entre os medicamentos que as mulheres devem evitar a qualquer custo — começando em alguns casos até mesmo três meses antes do início da gestação — estão:
- Isotretinoína (Accutane, entre outros), utilizada contra a acne.
- Ácido valproico, contra convulsões.
- Lítio, usado no tratamento do distúrbio bipolar.
- Tetraciclina, enzima conversora de angiotensina (ECA).
- Antagonistas dos receptores da angiotensina para a hipertensão.
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