A empresa de consultoria e auditoria Deloitte colocou o Brasil em sua seleta rota de pesquisas na área de saúde. A companhia concluiu em setembro seu primeiro levantamento no país sobre satisfação ao sistema de saúde. Os dados mostram que o Brasil - o sexto maior mercado de saúde privada do mundo - tem um grande potencial de expansão em todos os elos dessa cadeia.
Essa pesquisa é feita pela consultoria há quatro anos em países da Europa, como Bélgica, Canadá, França, Alemanha, Luxemburgo, Portugal e Reino Unido, e nos Estados Unidos. Neste ano, foram incluídos México, Brasil e China. "Não existe nenhum modelo a ser seguido", disse ao Valor Enrico de Vettori, sócio da área de Life Science e Healthcare da Deloitte e responsável por esse estudo no Brasil.
A abordagem, feita com 1.000 entrevistados, mostra, de maneira geral, um alto grau de insatisfação dos consumidores brasileiros, de 57% (com notas "D" e "E"), em relação ao sistema de saúde. Menos de 1% deu nota máxima "A".
Em relação a medicamentos, a pesquisa reforça a importância do segmento de genéricos no país. O estudo mostra que 40% tomam remédio com prescrição regularmente. E esses usuários procuram na internet informações sobre as opções de tratamento (46%), compararam opções de tratamento para um problema específico (24%) e procuram conselhos na farmácia sobre um medicamento prescrito por um médico (24%).
Dos 6% dos entrevistados que afirmaram já ter mudado de medicamentos prescritos nos últimos 12 meses, a maioria mudou para uma marca genérica para economizar dinheiro: 59%. Outras razões para migração para genéricos incluem a falta de medicação recomendada (30%), o não funcionamento do medicamento (28%) e os efeitos colaterais (22%). O mercado de genéricos está em franca expansão global. De acordo com a pesquisa, 44% dos consumidores relatam que pediram ao seu médico medicamento genérico, motivados pelo custo.
Vettori observa que a tendência das farmacêuticas globais, sobretudo as que estão perdendo a patente de seus principais "blockbusters" (campeões de venda) é fundir-se com outras companhias. "Essa é uma tendência internacional", afirmou. No Brasil, as multinacionais tendem a fazer aquisições para complementar portfólio. "Muitas companhias fazem parcerias para entender o mercado local."
Os planos de saúde no Brasil também foram analisados nessa pesquisa. Do total, 75% disseram ter um convênio médico. Para os entrevistados, o convênio é obtido por meio dos empregadores (52%), sobretudo. Outros 38% contrataram diretamente o convênio.
Quando questionados sobre a própria saúde, quase metade dos entrevistados (46%) respondeu que possui problema crônico, 41% classificaram como "muito boa" e os outros 13% como "excelente". A maioria dos entrevistados (81%) está insatisfeita com o tempo de espera por atendimento. Já sobre o acesso a serviços (exames realizados, por exemplo), o percentual de insatisfação foi de 57%. Outros 57% também reclamam da falta de foco no cuidado com o paciente.
Fidelidade também não é o forte dos brasileiros. A pesquisa detectou que a troca de médicos é comum entre os brasileiros - 33% dos entrevistados relataram troca de médico no ano passado. Entre as razões estão a insatisfação com o atendimento recebido (49%), a necessidade de um tipo diferente de especialista (26%), a insatisfação com o serviço prestado pelos funcionários no consultório do médico (26%), a não aceitação do plano de saúde (15%). Apenas 8% dão preferência para os médicos que cobram mais barato.
A Deloite atua em cerca de 150 países e em 40 deles possui uma divisão na área de saúde. "Prestamos consultoria nessa área, para todos os elos dessa cadeia", afirmou Vettori. No Brasil, a consultoria tem 120 pessoas para atuar nessa área. "Estamos aumentando a equipe dessa divisão nos últimos meses." |